quarta-feira, 9 de junho de 2010

Afinal o grafitter-mistério fala. Banksy deu uma entrevista


Mas calma: foi por email, não revelando a identidade. O graffiter com obras avaliadas em 300 mil euros continua incógnito. Até quando?

No futuro, todos seremos anónimos por 15 minutos. A subversão do prenúncio do mestre da pop art, Andy Warhol - "um dia todos teremos direito a 15 minutos de fama" - pertence a Banksy, o grafitter mistério cuja arte urbana se transformou num fenómeno mediático global. A mensagem é simples e eficaz, como quase todas as suas criações. Mas até quando conseguirá o artista de Bristol manter-se na sombra? Talvez nunca o cheguemos a conhecer: "Pode parecer marketing, mas o anonimato é vital para o meu trabalho. Sem isso nunca conseguiria pintar", diz numa rara entrevista que deu a semana passada ao "The Sunday Times". Por email, claro.

Os amigos dizem que é uma "pessoa calma, pacífica e com bom humor". Mas não é isso que o faz continuar a rastejar pelos canais mal cheirosos de Londres para desenhar um stencil num pedaço de cimento que será visto, na melhor das hipóteses, por meia-dúzia de pessoas. "Pinto porque acho que uma parede nas margens de um canal é um sítio mais interessante do que um museu", disse na mesma entrevista. Isto, independentemente de algumas das suas obras estarem avaliadas em mais de 300 mil euros e serem cobiçadas por Brad Pitt ou Jeniffer Lopez. "Ao exibires a tua arte num museu, vais estar a competir com Rembrant. Na rua, a única concorrência é o pó. Como se te misturasses com pessoas gordas para pareceres mais magro."

Banksy tem uma obsessão permanente por câmaras de vigilância, que diz serem uma das piores coisas da Inglaterra moderna. "Deixam-me com os nervos em franja. Não apenas do ponto de vista profissional, mas também filosófico. Detesto quando dizem 'se não fizeste nada de errado, nada tens a esconder. Toda a gente tem coisas a esconder, senão é porque algo está mal." No seu caso, haverá mais do que a maioria dos mortais: a arte Banksy não conhece fronteiras, vai do muro da faixa de Gaza às galerias de arte de Los Angeles ou Londres. Se o seu rosto for divulgado, o mais certo é ser acusado de vandalismo. No entanto, e apesar das raras entrevistas, a verdade é que aceitou publicar quatro páginas num dos principais jornais ingleses. "É tudo uma questão de hipocrisia." E responde com um provérbio chinês: "Se te deitas com uma armadura, dificilmente consegues dormir."

Uma das revelações da longa entrevista - que teve direito a várias réplicas da jornalista - foi a existência de uma "Mrs. Bansky", que ele carinhosamente apelida de "viúva do muro". Quanto à restante família, o grafitter confessou a desilusão da mãe quando soube que ele era Banksy: "Se és um grafitter, porque é que nunca pintaste a carrinha que estacionava sempre em frente à nossa janela?"

por André Rito, Publicado em 09 de Março de 2010

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